quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

1807: a corte transfere-se para o Brasil

Contexto 

Com o Tratado de Tilsit, celebrado entre Napoleão e o czar Alexandre I e Frederico Guilherme III da Prússia, fica consagrada a destituição da Casa de Bragança do trono português. 

Bloqueio Continental: a França intima Portugal a fechar os portos a Inglaterra. Lisboa, que pretendera aplacar os franceses, impõe várias restrições a britânicos que habitam o reino. No entanto, os diplomatas franceses abandonam o país, por qualificarem como insuficientes as acções do governo até o príncipe-regente, D. João, proibir a acostagem dos navios britânicos. Porém, Inglaterra e Portugal assinam um acordo secreto, prevendo a mudança da corte para o Brasil e a ocupação da Madeira.

A invasão. No Tratado de Fontainebleau, entre França e Espanha, em anexo secreto, Napoleão e Manuel Godoy combinam a partilha de Portugal. Em 19 de Novembro, dá-se a invasão do exército francês, pelo Norte, comandado por Junot, ex-embaixador em Lisboa. Em cinco dias estão em Abrantes.  O Conselho de Estado toma a decisão de transferir a Corte para o BrasilNum decreto, D. João informa os portugueses; constituição do Conselho de Regência, presidido pelo Marquês de Abrantes. Embarque da rainha, D.Maria I, do príncipe regente e da restante corte, largando a 29 de Novembro, sob escolta da armada britânica.  No dia seguinte, Junot, à frente de 1500 homens, chega «a Lisboa, sem dar um tiro.» [PC].


Henri l'Evêque (1812)



Carlos Malheiro Dias, no romance Paixão de Maria do Céu (1902), evoca impressivamente essa retirada: «Um vento de loucura ensandecera a população dos paços. De mistura com alfaias da sala do trono, embarcavam catres da criadagem, enxergas, todos os intestinos grossos de um palácio de reis, num estendal de feira indecorosa, que exauria no povo o prestígio da realeza. Cadeiras, onde se haviam sentado princesas e embaixadores, eram conduzidas às costas suadas dos negros, lançadas do cais, em atropelo, como se o pavor se houvesse propagado desde os monarcas aos escravos, em furiosíssima e grotesca desordem. Escombros e destroços juncavam o terreiro. Num aviário imenso da infanta D. Maria Benedita, dúzias de passarinhos das Ilhas jaziam mortos, num flácido monte de asas e penugens, depois de uma noite ao frio.»

Os dados:

17/I - Bloqueio às costas francesas pela Inglaterra.
23/II - Inglaterra: aprovação do "Slave Trade Act" na Casa dos Comuns, por larga maioria, impõe a abolição do comércio de escravos.
14/VI - Batalha de Friedland, França derrota Rússia e Prússia.. 
7/VII - Tratados de Tilsit (França com Rússia e Prússia).
11/VIII - Intimação francesa no sentido de fecho dos portos portugueses a Inglaterra.
9/X - Prússia: emancipação dos servos.
20/X - D. João proíbe a acostagem de navios ingleses.
27/X - Tratado de Fontainebleau.
22/X - Acordo secreto Portugal - Inglaterra. 
19/XI - Entrada do exército franco-espanhol, comandado por Junot.
24/XI - Ocupação de Abrantes, «sem dar um tiro». [PC] O Conselho de Estado decide transferir a corte para o Brasil.
26/XI - Constituição do Conselho de Regência.
27/XI - Embarque da família real.
29/XI - Largada da frota real.
30/XI - Junot entra em Lisboa.

«Os operários arsenalistas fundam um montepio.» [CF]. 
«A Academia Real dos Guarda-Marinhas é transferida para o Rio de Janeiro.» [JS] 
Junot instala-se no palácio do Barão de Quintela e as tropas ficam aquarteladas nos conventos de S. Francisco e de Jesus. «Roubos. Violência. Despotismo do invasor.» [AMP]
 

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